A jornada de uma nação, desde colônia até sua independência, através de seus referendos.
Estas três cédulas cobrem três distintos períodos de uma nação, desde seu status de colônia até sua independência. No final do século XIX, a França assinou vários tratados com os sultões somalis e afares que viviam na região do Golfo de Tadjoura, no Chifre da África. Isto culminou em 1894 com o estabelecimento de uma administração francesa permanente na cidade de Djibuti, um porto estratégico que controlava o acesso ao Mar Vermelho e o Oceano Indico. A região foi nomeada de Côte Française des Somalis, literalmente Costa Somali Francesa, também conhecida como Somalilândia Francesa. Em 1958, às vésperas da independência da vizinha Somália, foi realizado um referendo para decidir se o território devia aderir à República da Somália ou permanecer com a França. O resultado foi a favor de uma associação continuada com a França, em parte devido ao voto do grupo étnico dos afares e dos europeus lá residentes, embora tenha ocorrido inúmeras denúncias de fraudes eleitorais. Em 1966, a França rejeitou a recomendação das Nações Unidas de conceder a independência da Somalilândia Francesa, porém, uma visita do então presidente francês, Charles de Gaulle, foi recebida com manifestações e tumultos. Em resposta aos protestos, de Gaulle ordenou um segundo referendo para determinar o destino do território. Novamente os resultados apoiaram uma relação continuada com a França. E novamente com os somalis votando pela independência, com o objetivo de uma eventual reunião com a Somália; e os afares optando por permanecer associados à França. Assim como já havia ocorrido no primeiro referendo, este segundo também foi marcado por denúncias de fraudes eleitorais por parte das autoridades francesas, ao deportarem somalis sob o pretexto de não terem carteiras de identidade válidas. Ainda segundo a ONU, houve um número excessivo de cédulas declaradas inválidas nos distritos somalis, sugerindo um plebiscito manipulado. Embora o território estivesse na época habitado por aproximadamente 58 mil somalis e 48 mil afares, apenas 14 mil somalis foram autorizados a se registrar para votar contra 22 mil afares. Logo após a realização deste referendo, a Somalilândia Francesa foi renomeada Territoire Français des Afars et des Issas - Território Francês dos Afares e dos Issas, em reconhecimento ao grande eleitorado de afares e para minimizar o significado da composição dos somalis, já que os Issas eram um subclã dos somalis. Com uma população somali cada vez maior, a probabilidade de um terceiro referendo ser favorável aos franceses ficou muito reduzida. O custo proibitivo de manter a colônia, o último posto avançado da França no continente africano, foi outro fator que desestimulou os franceses a tentarem manter o território. Em 1977 veio enfim o terceiro e último referendo. Uma avalanche de 99,8% do eleitorado apoiou o desligamento da França, marcando oficialmente a independência do Djibuti. Um político somali, que fez campanha pelo voto do sim ainda no primeiro referendo em 1958, acabou sendo o primeiro presidente do país.
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