A fruta e seu produto que estão intimamente ligados a história humana!
Quando pensamos em uvas e vinhos é comum lembrar do Velho Mundo, dos tradicionais países produtores como Itália e França. Mas a história deste fruto precioso é muito mais antiga do que você pode imaginar e um pouco distante destas típicas regiões. As uvas possuem uma capacidade incrível de adaptação (por isso existem incontáveis variedades mundo afora) e, com o passar do tempo, algumas variedades se mostraram mais apropriadas para consumo e especialmente para a produção de vinho. A mais importante espécie de uvas é a Vitis vinifera, justamente a espécie que dá origem a todos os vinhos que tão bem conhecemos e amamos. A cultura de uvas é uma prática muito antiga, tão antiga que é difícil precisar sua origem. A grande maioria dos pesquisadores concorda que as uvas, próximo do que conhecemos hoje, surgiram no Oriente Médio, onde começaram a ser domesticadas para consumo entre 4000 e 6000 AC. A partir daí seu cultivo conquistou o mundo, e especialmente a Europa, enquanto os povos avançavam com as explorações marítimas e comércio. Estudos recentes mostraram que as Vitis vinifera que usamos hoje para elaborar vinhos surgiu na carona dessa dispersão pela Europa, em um cruzamento espontâneo de uma variedade de uva domesticada do Oriente Médio com uma espécie selvagem Europeia. Estes cruzamentos naturais foram tornando as variedades de uvas cada vez mais resistentes e adaptadas às diferentes condições de clima e solo, literalmente fincando raízes por toda Europa. A transformação do suco da uva na bebida de Baco foi um passo natural e muito precoce, e tudo isso graças a um microrganismo muito íntimo da viticultura. Você certamente já pegou um cacho de uva e notou o que parece ser um véu ou uma cera revestindo o grão da uva. Esta camada surge naturalmente e protege a casca da uva dos elementos externos como os raios do Sol e até da chuva. Nesta camada estão presentes milhares de microrganismos, e, entre eles, as leveduras. Com o cultivo das uvas crescendo, foi questão de tempo até que alguns cachos sofressem uma leve prensagem, permitindo que as leveduras ficassem em contato com o suco da uva, transformando os açucares naturais em álcool. Pronto, a natureza entregou ao homem seu maior presente. Os indícios mais antigos da elaboração de vinho foram encontrados em vasos de argila em territórios que hoje são parte da Geórgia, na região do Mediterrâneo, datados de 6000 AC. No país vizinho, Armênia, arqueólogos encontraram uma caverna na cidade de Areni, onde estava preservada aquela que é conhecida como a mais antiga vinícola, a Areni-1, com aproximadamente 6100 anos. Neste local foram encontrados tanques, bacias e jarros de argila revestida, além de sementes, cascas prensadas e até vinhas dissecadas. A exploração desta área começou em 2007 e segue até hoje. Dezenas de outras descobertas muito antigas no Irã (5000 AC) e na Sicília (4000 AC) mostram que a expansão da uva e da produção de vinhos foi muito rápida mundo afora. Com o tempo, o gosto pela bebida instigou os produtores na busca pelas melhores opções de uvas para seus vinhos, até que surgissem as variedades que conhecemos hoje. Independentemente de onde tenha vindo, a diversidade e riqueza que as uvas conquistaram para sua sobrevivência, despertaram o fascínio de muitas civilizações e assim o desenvolvimento da vitivinicultura foi inevitável. Seja por mar ou por terra, o viajante que encontrasse as persistentes vinhas ou o inebriante vinho em suas explorações, certamente levava para casa uma parte importante do futuro de nossa amada bebida. Entre guerras e paz, podemos dizer com tranquilidade que a história humana sempre foi regada a vinho. E como esperado, não é incomum encontrar sua representação em cédulas ao redor do mundo como as vistas acima, sejam com seus esplendorosos cachos ou nas cestas de belas camponesas. (texto parcialmente retirado do blog de Casa Marques Pereira)
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