Há momentos que uma cédula de banco se transforma em um poderoso meio de propaganda.
Várias cédulas da França da primeira metade do século XX possuem "apelidos" entre os colecionadores franceses – "le mineur" (o mineiro), "le berger" (o pastor), "le jeune paysan" (o jovem agricultor), etc. A cédula acima é uma delas e é conhecida como "le pêcheur" (o pescador). Ela foi utilizada pelos franceses durante o período da Segunda Guerra Mundial como um veículo de propaganda antinazista e um elemento de sátira. Originalmente ela faz parte de uma série de cédulas emitidas pelo Banco da França entre 1941 e 1950, cuja temática são as profissões da Bretanha, a região oeste da França com uma ampla costa litorânea englobando tanto o Canal da Mancha como o Oceano Atlântico. A cédula mostra um pescador puxando sua rede de pesca tendo ao fundo o porto de Concarneau. Durante a ocupação nazista (1940-1944), os cidadãos franceses comuns usaram de sua criatividade para desafiar seus invasores colando no canto inferior esquerdo da cédula a imagem de Hitler recortada de um selo postal que na época circulava na Alemanha. Como a colagem ficava sobre a corda e próximo da mão do pescador, dava a impressão de que o pescador bretão o estava estrangulando, para o deleite dos leais franceses. Uma outra versão que também circulava entre a população francesa tinha como "enforcado" a imagem do Marechal Pétain, também retirada de um selo postal. Isto porque a parte sul da França que não estava sob o controle direto das tropas nazistas – a chamada França de Vichy – era governada por um fantoche alemão, o idoso e trêmulo Marechal Pétain, um ex-herói francês da Primeira Guerra Mundial. Apesar do governo de Pétain dar a aparência de um estado independente, em todos os sentidos ele estava sujeito às ordens de Hitler e de outros oficiais nazistas, e por isso não foi perdoado pelo povo francês. Desta forma, a guerra transformou algumas cédulas em um meio de transmitir o pensamento popular e ao mesmo tempo criar uma motivação pela uma causa da liberdade.
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