O país onde ser presidente é uma atividade de alto risco e o casamento é um tanto peculiar.
O arquipélago de Comores, localizado no Oceano Índico na costa da África Oriental entre Moçambique, no continente, e a ilha de Madagascar, foi por muitos séculos uma passagem obrigatória para o comércio desta região com a Ásia. Constituído por quatro ilhas - Grande Comores, Mohéli, Anjouan e Maiote, elas foram parte do Império Colonial Francês desde o final do século XIX até 1975, quando as três primeiras declararam unilateralmente sua independência e criaram a União das Comores. A ilha de Maiote, por sua vez, decidiu através de referendo popular continuar a ser administrada pela França, tornando-se um dos seus departamentos ultramarinos. Apesar de Comores reivindicar a soberania sobre Maiote, a França tem vetado no Conselho de Segurança da ONU qualquer resolução sobre o assunto. Mas os problemas políticos neste paraíso tropical não pararam por aí. Em 1997 foi a vez das ilhas Mohéli e Anjouan declararem sua própria independência. Apesar da tentativa militar do governo central em suprimir o levante e dos esforços de mediação de organizações internacionais, os movimentos separatistas persistiram. Uma nova constituição foi então elaborada em 2001 especificamente para pôr fim aos ciclos de violência que deram a Comores o título de "ilhas golpe-golpe". Nestes quase 50 anos de independência, Comores viu mais de vinte golpes de Estado, ou tentativas de golpe, com vários chefes de Estado assassinados. Esperando alcançar certo grau de estabilidade política, chegou-se a um acordo de alternância de poder, com cada ilha mantendo seu próprio governo local autônomo. Mesmo assim o frágil sistema de compartilhamento de poder comoriano esteve ameaçado de desmoronar em 2007 quando o governo central tentou adiar as eleições na ilha de Anjouan devido a violentos incidentes e evidências de intimação de eleitores. Como o governo local recusou-se ao adiamento, a ilha foi tomada pelas forças da União Africana em 2008, forçando o presidente local a fugir do país. E para provar que a ilha merece seu apelido, o atual presidente sofreu em 2019 uma tentativa de assassinato. Política a parte, há um fato curioso na vida social das ilhas. Lá existem legalmente dois diferentes tipos de casamento. Um é o pequeno casamento, conhecido como “mna daho”; o outro é o casamento tradicional, conhecido como “ada”. O primeiro trata-se de um casamento simples, íntimo e barato e o dote da noiva é muito pequeno. Um homem pode realizar vários casamentos “mna daho” ao longo de sua vida, frequentemente com uma mulher de classe social mais baixa. Já o casamento “ada”, ou grande casamento, geralmente é feito apenas uma vez na vida. Sua marca registrada são o uso de deslumbrantes joias de ouro na cerimônia, duas semanas de celebrações e um enorme dote nupcial. Embora as despesas sejam rateadas entre as duas famílias, um casamento “ada” pode chegar a custar até $75.000. O status social do homem após o casamento aumenta muito. Ele passará a ter o direito de falar em público e de participar da vida política da ilha. Ele ainda terá o direito de exibir seu status vestindo um “mharuma”, uma espécie de xale, sobre os ombros, e poderá entrar na mesquita pela porta reservada aos anciãos e sentar-se na frente. O status da mulher também muda, embora menos formalmente, à medida que ela se torna "mãe" e se muda para sua própria casa.
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