Um sutil protesto político em uma cédula de banco!

A Birmânia tornou-se independente do Reino Unido em 1948 e manteve este nome até 1988, quando a junta militar que assumiu o poder após um golpe de estado anunciar que o país passaria a se chamar Myanmar. Um dos principais líderes da independência do país foi o general Aung San (1915-1947), que se tornou o primeiro-ministro de fato. Porém alguns meses antes da Inglaterra renunciar ao controle do país, Aung San foi assassinado por um rival político. Nesta altura, sua filha Aung San Suu Kyi (1945-), tinha apenas dois anos de idade. Suu Kyi deixou a Birmânia em 1960 e não voltou até 1989 para cuidar da mãe doente. Ela encontrou um país em transição, com o governo saindo das mãos de um ditador (Ne Win) e passando para uma ditadura militar. Usando as lições de Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr., Suu Kyi liderou uma campanha de não-violência por eleições democráticas, tendo inclusive recebendo o Prêmio Nobel da Paz de 1991. A junta militar reagiu colocando-a em prisão domiciliar e cortando toda a sua comunicação. O simples ato de colocar sua imagem em um cartaz ou panfleto era punível com prisão. Em 1990 a junta autorizou a emissão de uma nova cédula de 1 kyat com a imagem do seu herói nacional, o general Aung San. A marca d'água na cédula também teria a sua imagem. Gravadores desconhecidos, no entanto, suavizaram os traços do general para criar uma marca d'água com as feições da banida Suu Kyi. Durante os meses seguintes que a junta militar levou para retirar a cédula de circulação, os reformistas democráticos precisavam apenas manter a cédula contra a luz para ver a imagem da sua líder. Suu Kyi foi uma das mais notórias prisioneiras políticas do mundo, sendo mantida em prisão domiciliar até 2010, quando foi autorizada a circular livremente pelo país e passou a defender a democracia e a reconciliação nacional. Após o novo golpe de estado em 2021, ela foi novamente presa pela junta militar que assumiu o poder. Em 2023 ela recebeu uma pena de 27 anos alegadamente por crimes de fraude eleitoral, corrupção e incitação popular, voltando mais uma vez a prisão domiciliar.